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Gangues

 

Autora: Beatriz Silva Ferreira; é Autora do Livro "Só por Hoje Amor Exigente"

 

 

As gangues não vêm apenas da periferia pobre da cidade. Elas estão em todos os lugares: futebol, punks, skin-heads. Algumas gangues são compostas de dependentes de bairros, que se juntam para praticar banditismo e outras são imitações. O que quer que sejam, os pais devem estar atentos para o que está acontecendo com os filhos.

Não são apenas os rapazes que aderem às gangues, as meninas também. Há gangues de mulheres que podem ser perigosas como as dos homens.

Entre gangues urbanas de São Paulo, formadas por jovens, a mais violenta de todas é a dos carecas, (Jornal da Tarde, 29/09/95). Nacionalistas ao extremo, cultuam o físico em academias de musculação, praticam artes marciais, odeiam homossexuais - Deus fez o homem e a mulher. O resto é uma aberração da natureza, defendem eles -, são contra as drogas, mas não são nazistas, como a maioria das pessoas imaginam.

Há negros e nordestinos nos dois principais grupos que formam os Carecas do Brasil: Carecas do Subúrbio, na maioria das vezes formado por jovens da Zona Leste de São Paulo e Carecas do ABC.

Em 1987, quando o grupo norte americano Ramones tocou pela primeira vez no país, os skin-heads invadiram o palace e arrumaram briga com o público. Anos mais tarde, foram acusados de jogar uma bomba de gás lacrimogêneo dentro do canecão, no Rio, durante uma apresentação dos Ramones. Tiroteios entre skin-heads e outros bandos são comuns na periferia. Em janeiro deste ano mataram a pancadas um adestrador de cães na praça da república.

Para pertencer à gangue dos carecas, o candidato passa por uma prova de fogo para ser admitido. Ele tem de ser corajoso, ser apresentado por um outro careca, não ter envolvimento com drogas e ser nacionalista. Mas o passo mais difícil ocorre no festival Dezembro Oi! Quando os skin-heads de todo o Brasil se reúnem. O novato leva socos e chutes dos veteranos. É como um trote de faculdade, só que mais violento.

Temos um fascínio pela violência, mas não dá para explicar o motivo, diz um dos líderes. É como uma criança que tem satisfação em quebrar uma janela. Ela sabe que é errado, mas faz aquilo mesmo sabendo que depois vai ser punida. Somos da seguinte idéia, diz ele: a melhor defesa é o ataque e, se você pode destruir seu inimigo, a vitória é sua.

Os primeiros skin-heads surgiram na Inglaterra na década de 60. Nacionalistas, já usavam o visual que é repetido até hoje: suspensórios, coturnos (botas militares) e cabelo raspado. No Brasil, o grupo surgiu na periferia dos grandes centros, no meio da década de 80, como uma dissidência dos punks. Hoje estima-se que haja mais de três mil carecas, principalmente nos Estados de São Paulo, Rio, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Além dos Carecas do ABC e Subúrbio, os skin-heads brasileiros também estão agrupados em outras gangues com menos integrantes: Sharp-Skinheads Against Racial Prejudice - Skin-heads contra o Preconceito Racial - e White Powers formado por descendentes de europeus: são racistas, defendem o separatismo da região sul, odeiam negros e homossexuais e pregam o nazismo.

A socióloga Maria Stela Santos Gracimar montou um curso sobre gangues baseada num trabalho. Passou um ano e meio convivendo com galeras, gangues e turmas de um bairro da zona norte de São Paulo. Ficou sabendo, pelos diretores de escolas, que todos os colégios, mesmo os particulares, têm problemas com gangues juvenis, que se dividem em três: galeras mirins, adolescentes e jovens; sendo todas problemáticas. Pelo modo de vida desses jovens, dá para entender que a violência surge da própria cultura de rua. Diz ainda, que as galeras violentas não são exclusivamente da periferia. Em um ano e meio de pesquisa, traçou o perfil dos jovens que entram em grupos organizados: como a gangue dos carecas, ou uma torcida uniformizada:

Tem na maioria entre 11 e 16 anos - são inteligentes, espertos e educados;
Possuem códigos específicos de linguagem, roupa, comportamento e gestos;
Vivem em crise com a família;
Perderam os valores da religiosidade e da escola;
Sentem necessidade de pertencer a um grupo ou a uma gangue;
Ao fazer parte de um bando, a responsabilidade por algum ato deixa de ser individual e passa a ser dividida por todo grupo;
Auto-afirmação e convivência com pessoas que têm os mesmos problemas e falam a mesma língua.

Os jovens aderem às gangues porque estão convencidos de que resolverão seu problema financeiro e social. Elas lhes dão segurança e um lugar para pertencer.

Nem todas as turmas são violentas no sentido de agressão. Há a violência simbólica, como a de um pichador de muro ou o rapaz que tira rachas nas avenidas, mas há também a agressão de fato, como ocorre na gangue dos skin-heads. Enquanto a maioria dos grupos é contra a sociedade - que é discriminatória, capitalista e militarista - os carecas defendem estes valores. Mas, a verdade é que todo jovem, seja ele brasileiro ou chinês, tem um fascínio pela aventura e muita curiosidade. A socióloga acredita que existem alguns caminhos para o jovem largar a vida em grupo:

Quando encontra um mito: uma namorada;
Uma família estruturada;
Um professor que entenda sua cabeça;
Um amigo que não pertença a nenhuma gangue.

Diz ainda que as principais alternativas para tirar um jovem dessa vida são a cultura, o esporte e o resgate da cultura de rua. No convívio com os jovens, percebeu que a música é muito importante para eles (Jornal da Tarde, 29/09/95).

As gangues estão envolvidas em atividades criminais, tais como roubo, crimes contra a propriedade, conduta desordeira, tráfico de drogas e homicídios. As drogas que estão disponíveis ns ruas vêm das conexões das gangues.

Nos Estados Unidos, famílias mudam de cidade como uma maneira de proteger seus filhos. Nem sempre a mudança é uma solução. Se o jovem já está envolvido numa gangue, elas o ajudarão a estabelecer uma nova conexão em seu novo local, para fazer tráfico ou outra atividade criminal. Não há uma maneira de determinar o número de membros de uma gangue numa determinada área.

Um jovem com perfil de gangue tem:
desempenho pobre na escola;
não gosta da escola;
usa a escola mais para finalidade social do que para aprender.

Este jovem tende a ter problemas com autoridade, e isola-se da família e suas atividades, costumam ter atitudes ofensivas, quando estão em turmas e não quando estão sozinhos, porque:

Isso faz parte de uma iniciação;
Impressiona outros membros da gangue;
Prova sua lealdade a outros membros da gangue.

 

 

 

 

O que se pode fazer:

  1. Verificar se existe gangue no bairro;
  2. Verificar os gestos, o modo de se vestir, os slogans, as insígnias;
  3. Saber onde seu filho está, em qualquer momento. Ter um nome e número de telefone para poder localizá-lo;
  4. Conhecer os amigos de seu filho e seus pais. O sobrenome é importante. Algumas vezes você os conhece apenas por Marcelo, Fernando, Paula;
  5. Ficar atento se há famílias de gangues. Os pais podem estar tão envolvidos quanto seus filhos, e portanto, não seria um bom lugar para ele estar;
  6. Conheça seus vizinhos, troque informações, fale sobre o que está acontecendo no bairro. Fique envolvido;
  7. Não se amedronte em chamar a polícia se perceber uma reunião. O envolvimento da polícia está vinculado ao desempenho de cidadania;
  8. Apague pichações. Se permanecerem intocáveis, é um convite aberto para as gangues irem até lá;
  9. Matricule seu filho numa escola, pois ele necessita de educação. Se passou da idade, coloque-o num supletivo para continuar sua formação escolar;
  10. Use todos os métodos disponíveis para manter seu filho num trabalho, mesmo que seja filantrópico, a fim de evitar que fique perambulando pelas redondezas sem fazer nada;
  11. Leve um especialista a seu grupo para falar sobre gangues, drogas e as relações entre pais e filhos;
  12. Verifique como pode ajudar sua comunidade;
  13. Fale com seus filhos, pois eles sabem mais sobre atividades de gangues do que você;
  14. Observe alguma mudança em seus filhos e seus amigos. Esteja atento;
  15. Examine seu quarto e seus pertences;
  16. Seja consistente e firme no tratamento de seu filho;
  17. Verifique na escola de seu filho se foi identificada alguma gangue e o que está sendo feito a respeito;
  18. Verifique se a polícia tem algum departamento especializado em gangues. Se for positivo, entre em contato para saber sobre o assunto;
  19. Se verificar que seu filho está à beira de ser recrutado por alguma gangue, ou já é um membro dela, peça ajuda;
  20. Estabeleça um horário de chegada em casa e esteja atento para conferir.

 

 

 

Uma vez envolvido em gangue, é muito difícil sair. Se deixá-la, deve evitar passar nos locais em que costuma ficar, para não correr o risco de ser agredido. Outra maneira de sair, é ficar escondido em outro estado. Em ambos os casos, não há garantia de que queira sair ou que sobreviverá de um ataque.

Os pais devem se esclarecer sobre gangues e suas atividades. Só assim podem proteger os filhos, a si mesmos e suas comunidades.